O CANTO DO SABIÁ

Joana Carolina desceu da
cama e pisou o assoalho de tábuas, sem fazer barulho. Seus olhinhos sonolentos,
quase não se abriam. Na penumbra da casa, caminhou em direção ao quarto de seus
pais. Subiu e se enfiou no meio deles. Era de manhãzinha. Lá fora o sabiá
cantava, agradecido pela chuva que caíra durante a noite. Bem-te-vis, sanhaços
e coleiros- uns de gravatinha e outros, sem- agitavam-se alegres nas
bananeiras, mangueiras e laranjeiras e saudavam felizes, o dia claro, límpido
após o vendaval. Tudo se renovava.
Dentro do quarto, ouvia-se
o murmúrio das águas, caudalosas, correndo volumosas abençoadas pelas irmãs que
desceram do céu trazendo vida.
Em seu ninho, Joana
aconchegou-se ao seio materno e a percepção da paz advinda da harmonia da
natureza inundou seu coração sobrepondo-se temporariamente à vaga ideia de um
temor que, às vezes, cobria seu coração.
Pela greta da janela
fechada com a tramela, percebeu que era dia, no entanto dentro do quarto, na
penumbra reconfortante, reinava uma atmosfera de aconchego e segurança. No
coração infantil, um leve sentimento de que aquele momento mágico não duraria
para sempre. Fechou os olhos, encostou a cabecinha no peito da mãe, sentiu o
seu cheiro doce e suspirou feliz.
Acordou quando a mãe, não
podendo mais adiar seus afazeres, levantou-se, abriu a janela, fez seus
alongamentos, trocou a roupa e foi fazer o café na cozinha: café preto adoçado
e mingau de fubá com leite. Da janela escancarada Joana olhou o céu azul, as
plantas e a montanha ao longe. Lá fora, os animais reclamavam cuidados e o
mundo seguia seu curso no universo infinito...
Comentários
Postar um comentário