JUNG E A EDUCAÇÃO
Com o desenvolvimento vertiginoso da tecnologia que acarretou
a democratização da internet e o acesso
à informação , torna-se evidente que o foco da educação formal não deva ser
mais simplesmente a transmissão de conteúdos, mas o desenvolvimento do ser humano que
possibilite uma formação mais profunda e o capacite para a vida.
Em seu artigo, publicado pela primeira vez em 1928, intitulado A
importância da psicologia analítica para a educação[1]
Carl Gustav Jung já mencionava a necessidade dessa mudança de paradigma a qual
prepararia a criança para a vivência no mundo. Com o equilíbrio psicológico
advindo de uma educação formadora, ela poderia melhor conhecer-se e assim,
melhor relacionar-se no convívio social. Segundo ele “a finalidade dessa
educação é conduzir a criança para o mundo mais amplo e dessa forma completar a
educação dada pelos pais. (Jung, 1972).
A mudança de paradigma ainda é mais urgente nos dias atuais pois,
a sociedade atual apresenta novas demandas que requerem novas soluções.
Primeiramente, a ênfase da escola na transmissão dos conteúdos do currículo não
se justifica mais devido a disponibilidade de informações na internet e o seu
processo de democratização de acesso. Se essa visão já não se justificava
antes, quando a informação não era tão disponível, agora muito menos. Se houver
necessidade de alguns dados sobre qualquer assunto basta um click, uma busca na
internet e se tem uma gama incrível de informações. Entretanto, há que se
destacar, ainda, um ponto relevante. Todos tem acesso fácil às informações porém,
nem todos tem a capacidade de análise desses conteúdos Esse é um dos grandes
desafios para a educação, atualmente. Portanto, a necessidade atual é de se
formar indivíduos críticos e aptos a discutirem, analisarem e julgarem os
conteúdos que podem ser acessados a qualquer momento.
O outro aspecto que embasa a mudança de paradigma refere-se a
“preparar a criança para o mundo”, nas palavras de Jung. Seria ensinar-lhes a
lidar com o mundo interno e externo. Segundo o psicanalista é no período da
infância e puberdade que ocorre o desenvolvimento da consciência. “Pela
educação e formação das
crianças procuramos auxiliar esse processo. A escola é apenas um meio que
procura apoiar de modo apropriado o processo de formação da consciência. Sob
esse aspecto, cultura é a consciência no grau mais alto possível”. Para ele a verdadeira finalidade da escola é,
antes da transmissão de conhecimentos, a contribuição para que as crianças se
tornem adultos. Assim o relevante não é o grau de conhecimento com que a
criança termina a escola mas se a escola conseguiu torna-lo consciente de si
próprio libertando-o da dependência da família. A meta educacional hoje muitas
vezes se resume a educar para que a pessoa consiga um bom emprego ou ser um bom
empreendedor, no entanto deixa-se um ser imaturo e despreparado para lidar com
problemas complexos que são normais na vida de qualquer um, considerando-se o
número cada vez mais alto de suicídios. Jung explica que:
Com isso se dá por terminada a educação, como se as pessoas já estivessem completamente prontas e preparadas para a vida. Desse modo se abandona ao critério e à ignorância do indivíduo a solução de todos os problemas futuros e complicados da vida. Cabe única e exclusivamente à falta de educação dos adultos a culpa de tantos casamentos desajustados e infelizes, assim como inúmeras decepções na vida profissional; todos esses adultos vivem muitas vezes na mais completa ignorância das coisas principais da vida.(Jung,1972 ).
Jung ressalta, ainda, que os conhecimentos dos métodos da
psicologia analítica seria primordial para a educação de “si mesmo” a qual
seria de grande valia para os professores e resultaria também em benefícios às
crianças. Para ele deveria ser oferecidos cursos ulteriores aos jovens mas
também aos professores pois o processo de educação de si mesmo não termina com
a formação escolar. A educação de si mesmo necessita do autoconhecimento como
fundamento. A autoanálise, sem culpa, sem desculpismo, sem máscaras, sem
deteriorização é um mecanismo de autodescobrimento e consciência de si. Essa
identificação, aliada à vontade de transformação, impulsiona o indivíduo para o
equilíbrio e amadurecimento psicológico, fundamentais para uma vida saudável e
equilibrada.
[1]
Conferência pronunciada no Congresso
Internacional para Educação em Territet-Montreux 1923. Publicada pela primeira
vez em: Contributions to Analitical Pyichology. Kegan Paul, Londres, e
Harcourt Brace, Nova York 1928. A redação origina! alemã foi publicada pela
primeira vez na Edição de Estudos pela editora Walter, Olten 1971, como tratado
único do volume Der Einzelne in der Gesellschaft ("O indivíduo na
sociedade")].
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